Um novo horizonte para as compras públicas: credenciamento e e-marketplaces como instrumentos de transformação

Um novo horizonte para as compras públicas: credenciamento e e-marketplaces como instrumentos de transformação

Postado em 06/05/2025

Por Orlando Morais Neto -  Advogado, Procurador Geral de Jaboatão dos Guararapes /
Andryu Lemos - Advogado e Consultor.


A presente reflexão começou após a leitura de um artigo instigante, escrito pelos Professores Marcos Nóbrega e Ronny Charles, que trata da nova Lei de Licitações e do papel inovador do credenciamento e dos e-marketplaces nas compras públicas. O texto, além de técnico e bem fundamentado, me provocou uma visão otimista — e, sobretudo, estratégica — sobre os caminhos que se abrem para a administração pública brasileira neste novo ciclo.

Vivemos um momento crucial de inflexão na forma como o poder público se relaciona com o mercado. Em meio a uma cultura historicamente marcada por burocracia, rigidez procedimental e excessiva formalidade, começa a despontar, de forma concreta, um modelo mais flexível, eficiente e alinhado com as práticas do século XXI: o credenciamento dinâmico e os e-marketplaces públicos, que representam não apenas um avanço normativo, mas uma mudança de mentalidade na administração pública.

Refletir sobre essa evolução é mais do que reconhecer os méritos de um novo regramento legal. É compreender que estamos diante de um verdadeiro redesenho institucional. O futuro, que por tanto tempo foi promessa distante, agora se anuncia nas práticas cotidianas de contratação pública. Já não se trata de ficção futurista, mas de uma transformação em curso — visível nos editais, nas plataformas digitais e, sobretudo, na mudança de atitude dos gestores públicos.

O uso de plataformas digitais como os e-marketplaces traz consigo uma promessa verdadeiramente revolucionária: a de tornar as compras públicas mais ágeis, competitivas e transparentes. A lógica muda substancialmente — sai de cena o modelo em que o Estado escolhe um único fornecedor, quase sempre após um processo moroso e inflexível, para dar lugar a um ambiente plural, dinâmico e responsivo, em que fornecedores previamente credenciados disputam, em tempo real, com preços atualizados e condições mais vantajosas para a administração.

O credenciamento, nesse novo contexto, deixa de ser um mero procedimento auxiliar e passa a ocupar posição de protagonismo. Ele permite que o Estado esteja permanentemente aberto ao mercado, incorporando a lógica do “fluxo contínuo”, no qual os fornecedores podem se habilitar a qualquer tempo, desde que preencham os critérios previamente definidos. Esse mecanismo reduz custos transacionais, amplia o leque de alternativas e, acima de tudo, fomenta a inovação e a competitividade entre os ofertantes.

Otimismo aqui não é ingenuidade — é análise estratégica e realista. Quando observamos os ganhos potenciais desse novo modelo — economia de recursos, maior participação de pequenas e médias empresas, ampliação da concorrência, aumento da eficiência alocativa e mitigação de riscos de corrupção —, fica evidente que estamos diante da construção de um novo perfil de Estado comprador: mais inteligente, mais eficiente, mais responsivo às necessidades sociais e melhor aparelhado para promover o interesse público.

Evidentemente, há obstáculos a serem enfrentados. A implementação efetiva dessas ferramentas exige investimentos em tecnologia, treinamento continuado dos servidores públicos, desenvolvimento de marcos normativos claros e segurança jurídica para os atores envolvidos. Também exige mudança cultural — romper resistências internas, desconstruir paradigmas arraigados e incentivar a adoção de novas práticas.

Mas o horizonte está traçado. O futuro das compras públicas passa, inexoravelmente, pela digitalização, pela descentralização das escolhas e pela adoção de mecanismos mais abertos, como o credenciamento contínuo e os e-marketplaces governamentais. Trata-se de um caminho sem volta — e isso é uma excelente notícia.

Não é exagero dizer que estamos diante de um turning point, um ponto de inflexão que pode redefinir, estruturalmente, a relação entre Estado e mercado. A boa notícia? Já começamos essa jornada. E cada passo dado nessa direção fortalece uma administração pública mais transparente, moderna e conectada com os anseios de uma sociedade que exige resultados.


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